Responsável por 31% da geração e quase 50% das linhas de transmissão de energia no País, a Eletrobras se prepara para uma profunda transformação. A estatal vai aumentar seu capital para que o Estado deixe de ser seu principal controlador, em um processo que vai possibilitar novos investimentos e aumento de eficiência.
A proposta é que a Eletrobras, que já é uma empresa de capital aberto, emita novas ações em bolsa de valores no segundo semestre deste ano. “Vamos usar a bolsa de valores como instrumento de captação de investimentos do mundo inteiro”, diz o presidente da empresa, Wilson Ferreira Júnior. O governo também vai transformar parte de suas ações nas chamadas “golden shares”, papéis que dão direito a veto em temas estratégicos.
Para acompanhar o ritmo do crescimento econômico brasileiro e manter sua participação de mercado, a Eletrobras precisaria investir R$ 14 bilhões anuais na geração e transmissão de energia elétrica. No entanto, sua capacidade atual de investimento está na casa do R$ 3,95 bilhões por ano. “A capitalização vai recuperar de forma definitiva a capacidade de investimento”, avalia Ferreira.
Com mais recursos, a Eletrobras deve voltar a investir e crescer, o que vai beneficiar investidores, consumidores e o País como um todo. Ferreira afirma ainda que a capitalização pode inclusive dar à empresa a oportunidade de expandir seus negócios pelo mundo.
“As empresas do setor elétrico são muito grandes e investem no mundo inteiro. Essa lógica de escala traz mais eficiência à empresa, e ela pode se expandir. A Eletrobras já é grande no Brasil, mas pode se expandir ao redor do mundo”, avalia.
As mudanças na Eletrobras devem ainda melhorar os resultados nos leilões de energia no Brasil, com consequências como a redução no preço das tarifas e maior qualidade nos serviços prestados. “Quanto mais participantes tiverem capacidade e interesse para investir nos projetos, mais eficientes são os leilões. A democratização do capital vai permitir à Eletrobras participar mais competitivamente desses leilões. Quanto mais participantes, menor o preço para o consumidor”, resume Ferreira.
Atualmente, a Eletrobras detém seis distribuidoras, todas na região Norte e Nordeste, que serão vendidas em leilão previsto para ocorrer ainda no primeiro semestre de 2018, “tão logo seja concluída a avaliação que está sendo feita pelo Tribunal de Contas da União (TCU) sobre o tema”, diz o presidente.
Depois da venda das distribuidoras, a companhia segue responsável por 47 usinas hidrelétricas, 114 termelétricas, duas termonucleares, 69 usinas eólicas e uma solar, além de 65 mil quilômetros de linhas de transmissão.
As oportunidades no setor de energia é um dos temas da programação da segunda edição do Fórum de Investimentos Brasil 2018, que será realizado no final de maio em São Paulo. No dia 29, está previsto o painel “Como a infraestrutura impactará o crescimento brasileiro”, quando será debatido o assunto. No dia seguinte, o painel “dinamizando os mercados de energia: como manter o ritmo” aprofunda as discussões.
Pulverização do capital
A capitalização da Eletrobras também irá pulverizar o controle acionário da companhia, evitando que esta fique nas mãos de apenas um grupo. “Não vai haver nenhum acionista ou grupo que detenha mais de 10% das ações com direito a voto. O governo vai deter 43% das ações, mas terá voto para 10%. Isso é democratizar o capital. (...) este é o formato societário que mais democratiza o capital”, defende Ferreira.
Atualmente, o governo tem 51% das ações da empresa que dão direito a voto e uma participação de 40,99% no capital total da Eletrobras.